Entenda melhor o que está acontecendo e quais os riscos para todo o planeta!

Se as Abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas, não há polinização, não há reprodução da flora. Sem flora, não há animais, sem animais, não haverá raça humana – Albert Einstein (1879 – 1955)

A

s abelhas estão sumindo do nosso planeta e no mundo inteiro, pesquisadores, apicultores e curiosos estão cada vez mais preocupados. As razões prováveis são muitas, mas ninguém conseguiu apontar a causa final.

O fato é que caso elas desapareçam de vez, cerca de 70% das culturas agrícolas desapareceriam junto, além de mais 80% das espécies silvestres com flores. Isso porque as abelhas são as responsáveis diretas pela reprodução de todas essas espécies vegetais, através da polinização.

Entre as sub-espécies da Ápis Mellífera, as muitas espécies de meliponas (abelhas nativas, sem ferrão) e algumas espécies solitárias, são mais de 20 mil espécies de abelhas catalogadas. Juntas elas ajudam a renovar o meio ambiente, sendo importantes indicadores ambientais.

Por conta disso é que o seu desaparecimento é tão preocupante, já que denuncia um verdadeiro colapso ambiental e conseqüentemente, um colapso para toda a vida no planeta!

Nós do Museu do Mel também estamos preocupados, afinal, o futuro da humanidade está diretamente ligado à solução desse problema ambiental. A chance de tentar reverter esse processo ou permitir que ele se torne ainda mais agravado e preocupante está relacionada às escolhas que fizermos, preservar ou desmatar? Plantar alimentos sem agrotóxicos ou liberar o uso em larga escala de venenos restritos em todo o mundo? Estimular a propagação de meliponas e outros agentes polinizaores, ou contaminar o ar, as nascentes e os campos? A decisão está em nossas mãos!

Possíveis Causas

Este fenômeno, popularizado como “sumiço das abelhas”, foi chamado pelos pesquisadores de Distúrbio do Colapso das Colônias, ou DCC (em inglês, Colony Collapse Disorder – CCD) e segundo esses pesquisadores, não se trata de um único mal que assola às colmeias e sim, um conjunto de fatores que ao se somarem, geram o colapso de inúmeras colonias apícolas em todo o mundo.

Entre esses fatores, podemos destacar:

  • Doenças Genéticas;
  • Redução da Biodiversidade;
  • Surgimento de Novas Doenças Virais;
  • Perda do Habitat Natural: “Desertos Florais”;
  • Manejo Inadequado Gerando Stress e Má nutrição;
  • Distúrbios Ambientais (poluição, desmatamento etc.);
  • Intoxicação por Pesticidas e Herbicidas (Agrotóxicos);
  • Propagação de Antenas de Microondas para Telecomunicações (torres e aparelhos de celular)

Assim, países onde o desenvolvimento técnico e tecnológico é grande, onde o modelo de apicultura industrial predomina e onde a degradação ambiental já é alarmante, são os mais assolados pelo DCC. Infelizmente, esses países são também, um modelo econômico para os países em desenvolvimento (como o Brasil) e o impacto que essa influência pode exercer na apicultura é demasiado alarmante, uma vez que esses países em desenvolvimento tenham em seus territórios as maiores reservas naturais intactas e assim, sejam uma espécie de reduto ambiental para as abelhas.

Não à toa, muitos protestos e petições têm sido organizados ao redor do mundo, especialmente na Europa e Estados unidos, mas também aqui no Brasil. O problema é tão grave, que a extinção total das abelhas já é vista como uma realidade possível para médio prazo, caso medidas sérias não sejam tomadas.

Entre os países mais afetados pelo DCC, destacamos:

– EUA;          – Alemanha;          – Espanha; 

– Portugal;    – França;                – Itália;

– Suíça;          – Argentina;           – Chile;

– Brasil, onde destacamos os estados:

– Rio grande do Sul;            – Sta. Catarina 

– São Paulo;       – Piau        – Minas Gerais

Como isso nos afeta?

Segundo a pesquisadora da Embrapa em Recursos Genéticos e Biotecnologia, Carmen Pires, em artigo publicado na Revista PAB (v.51, nº5, maio 2016), no Brasil a situação não é tão diferente e a perda de colônias aponta para os mesmos problemas enfrentados em países da Europa e nos EUA, locais em que a DCC já foi comprovada. Para reverter esse quadro, o artigo recomenda como urgente a criação de programas de levantamento sistemático de sanidade apícola associada a avaliações dos impactos de fragmentação dos habitats e das práticas agrícolas, especialmente a aplicação de agrotóxicos, sobre as comunidades de abelhas.
Pesquisas desenvolvidas na Europa e EUA geraram um volume considerável de informações sobre as ameaças e importantes avanços científicos indicam que é impossível associar o colapso a um único fator. Assim, uma das soluções apontadas pelo estudo é a formação de uma rede de laboratórios que deem suporte aos levantamentos epidemiológicos.

Os pesquisadores recomendam a criação de um sistema de monitoramento efetivo das colônias nos apiários e nos ambientes naturais, a fim de reconhecer os impactos da DCC no país e assim, desenvolver e fomentar projetos relacionados ao saneamento do problema.

Para os autores, a situação no Brasil é bastante preocupante. Cerca de um terço do território nacional já foi modificado, o que levou à perda de grandes áreas de vegetação natural. Somado a isso, possíveis impactos da fragmentação de habitats sobre as comunidades de abelhas não têm sido devidamente avaliados, ao passo em que os casos de perdas de colõnias inteiras se multiplicam, especialmente no interior de são Paulo, em Sta. Catarina e no Norte do Rio Grande do Sul.

De acordo com dados do aplicativo “bee alert”, desenvolvido pelo CETAPIS (Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura

do Rio Grande do Norte) para registrar e monitorar os avanços do DCC, somente em 2018, foram 240 ocorrências e morte de quase 1 bilhão de abelhas em território nacional. Agravando este cenário, em apenas três meses, junto com a liberação de diversos agrotóxicos, cerca de meio bilhão de abelhas já foram encontradas mortas no Brasil em 2019, representando um forte alerta.

Para o professor Tiago Maurício Francoy, do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e especialista em abelhas, o regimento de agrotóxicos no Brasil está indo em direção contrária ao que os países desenvolvidos estão fazendo. “Esses agrotóxicos estão banidos na Europa e nos Estados Unidos há muito tempo já. E aqui, no Brasil, estamos seguindo o caminho inverso e liberando cada vez mais agrotóxicos.” Em entrevista cedida ao Jornal da USP em abril de 2019, o especialista pontua que a morte das abelhas provavelmente é maior do que apenas meio bilhão em três meses, “porque quem está fazendo essa conta de quantas abelhas morreram são os apicultores, é quem vai todo dia à colmeia e vê que a abelha morreu. Mas o que acontece é que nós temos ainda uma diversidade de abelhas nativas, tanto sociais quanto solitárias, que estão morrendo silenciosamente, sem ninguém se dar conta, por viverem em matas ou entornos.”

Sem as abelhas, tanto a renovação das matas e florestas, como a produção mundial de frutas e grãos ficariam comprometidas. O equilíbrio  dos ecossistemas e da biodiversidade sofreria um sério impacto, o que afetaria diretamente o ser humano de diversas maneiras.

Além de ameaçar a sobrevivência do homem e de diversas espécies, a redução de alimentos causada pelo desaparecimento das abelhas pode causar sérios problemas à economia. Hoje, estima-se que 10% do PIB agrícola estejam representados pelos serviços ecossistêmicos da polinização.

Esse número representa mundialmente mais de 200 bilhões de dólares por ano, montante equivalente ao PIB de países como Grécia, Ucrânia, Catar, República Tcheca, Peru, Iraque, Nova Zelândia e Argélia. O impacto também seria grandioso no setor industrial alimentício, afetando corporações de diferentes segmentos que dependem das culturas polinizadas.

As consequências são nítidas quando uma planta não é visitada por muitos polinizadores, uma fruta deformada, por exemplo, geralmente é porque as abelhas visitaram apenas algumas flores da planta. A planta investe mais recursos na flor que foi polinizada, e isso significa que a fruta que nasce desta flor terá maior valor nutricional e um sabor melhor. Para piorar, embora essas frutas possam ser consumidas, os produtores não conseguem vendê-las, e esses alimentos acabam indo parar no lixo. Em média, a produtividade de uma planta aumenta em 20% quando há insetos polinizando.

O que podemos fazer?

Políticas públicas que incentivem a redução do uso de agrotóxicos e promovam a variedade de culturas (em detrimento de monoculturas que limitam a diversidade da alimentação das abelhas e utilizam grandes volumes de agrotóxicos e transgênicos) têm potencial de criar um ambiente natural para atrair abelhas.

Independente de ações governamentais, diversos centros de pesquisa universitários têm dado grande atenção ao tema e desenvolvido importantes pesquisas e ferramentas que auxiliam no controle das colmeias e assim, possibilitam impedir o avanço do DCC e suas consequências trágicas. Um exemplo de grande importância vem do já citado CETAPIS, no Rio Grande do Norte. A partir da campanha “Sem Abelhas, Sem Alimento“, ativaram a ONG “Bee or not to be”, criada em 2013 no âmbito da Apimondia 2013, em Kiev (Ucrânia) com apoio de diversos pesquisadores em todo o mundo e até governos (como o Canadá).

Ainda assim, independente de ações institucionais, há outras formas de colaborar, mesmo para quem vive em zonas urbanas:

  • Plante flores diferentes em vasos ou no jardim para oferecer uma dieta rica e variada às abelhas. Caso floresçam em diferentes épocas do ano, melhor ainda, se a diversidade de abelhas em áreas urbanas aumentar, elas podem migrar para áreas agrícolas e em médio prazo teríamos um aumento na diversidade e abundância de abelhas no campo;
  • Não use produtos químicos ou inseticidas, pois podem ser nocivos para as abelhas. Isso é particularmente prejudicial quando as plantas estão floridas, uma vez que os químicos entram em contato com o néctar e o pólen, e as abelhas podem levá-los para as colmeias;
  • Deixe flores silvestres e ervas daninhas no jardim: são bons alimentos para as abelhas, geralmente dão flores bonitas e delicadas e em muitos casos, serve de alimento até para nós humanos (as chamadas PANCs – Plantas alimentícias não convencionais);
  • Construa um “hotel para abelhas”: você pode comprar ou criar uma estrutura de madeira com furos, que servirá como ninho para abelhas solitárias e outras meliponas – que são a grande maioria;
  • Torne-se um apicultor amador: não há necessidade de morar no campo para criar abelhas. A apicultura urbana é praticada em muitas cidades. Busque uma associação local, aprenda o necessário e transforme a apicultura em um hobby. As abelhas sociais sem ferrão são uma ótima opção para quem vive nos grandes centros;
  • Perca o medo: as abelhas não visam atacar você, porque ela provavelmente morrerá ao te picar. Elas só fazem isso quando se sentem ameaçadas. Se uma abelha pousar em você, mantenha a calma e espere ela sair. Não fique perto da entrada de uma colmeia ou no caminho entre as flores e a colmeia. E aprenda a diferenciá-las das vespas, que podem, sim, picar sem motivo aparente;
  • Deixe um prato de água no jardim ou no quintal: você pode não saber, mas as abelhas também sentem sede.

Para chamar atenção para a questão, a artista canadense Sarah Hatton desenvolve trabalhos com abelhas mortas recolhidas em apiários.

Ao lado, um excelente vídeo explicando a importância das abelhas e os perigos no caso de seu desaparecimento. Este video, com duração aprox. de 9 min, foi produzido pela organização “Bee or not to be?”, com o apoio do Projeto Polinizadores do Brasil.  Desenvolvido para dar suporte a educadores que desejam instruir seus alunos sobre o universo das abelhas e seu papel imprescindível na atividade de polinização e geração de alimentos. Para os alunos do Ensino Fundamental I (crianças de 8 a 11 anos).

Autores:
Prof. Dr. Lionel Segui Gonçalves
Profa. Dra. Rosane Malusá G. Peruchi.

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